sexta-feira, 23 de abril de 2010

26º Dia (La Paz / La Quiaca )

26 - La Paz - La Quiaca (930 Km)

Este dia foi inesquecível.
Hoje o dia foi marcado por muita, mas muita emoção, adrenalina e porque não
dizer muito mas muito mêdo.
Acordamos cinco da manhã, como havíamos combinado.
Nossa programação era; irmos até o meio do caminho entre La Paz e Potosi e nos
separarmos. Os nossos amigos argentinos Juan Carlos e filhos iriam para a
fronteira com a Argentina e nós iríamos para o Uyuni.
No meio do caminho os problemas começaram a aparecer.
A moto do Fernando começou a mostrar problemas na corrente, que ficava seca,
ela super-aqueceu por tensionar demasiadamentee acabou por derreter os orings.
Paramos e afrouxamos a corente e a cada 100 Km nós engraxávamos de novo a
corrente. Com um problema assim tão sério, tomamos a decisão mais dolorida e
correta que tínhamos pela frente, abortamos nossa ida ao Uyuni e seguimos viagem
para a fronteira com nossos amigos.
Chegamos em Potosí e tivemos um pequeno problema no pedágio. Queriam cobrar a
passagem das motos, o Juan Carlos ficou indignado, pois até aquela altura da
viagem nenhum pedágio nos cobrou e discutiu e com razão com o cara do pedágio que
queria ainda cobrar o valor igual ao dado a carros. Em nenhum pedágio existe uma
tabela com valores de motos, só eixos de carros e caminhões. No fim das contas o
cara do pedágio exausto de discutir nos deixou passar.
Paramos em um posto para abastecer e o frentista nos informou que estávamos a
300 Km da fronteira, e ele repetiu o que todos já haviam nos dito. A estrada era
asfaltada e tinha alguns quilômetros de terra.
A verdade nua e crua e que tinha no máximo 50 km de asfalto esparso em toda
esta extenção e o resto era terra. A estrada toda estava em obras, e só de
compactação, não havia trechos grandes de asfalto terminado.
No meio do caminho a moto do Leandro (Kawasaki) furou o pneu que já estava bem
gasto e a terra acabou com o resto dela. Paramos e fizemos o remendo. O Fernando
chegou um pouco depois, devido a mais uma parada para acertar a corrente, e nos
ajudou a encher o pneu com a bomba de pé que ele levava consigo na moto. A estrada
de terra seguia em frente e nós acreditávamos que o trecho de terra não teria mais
que 80 km. Pegamos um micro pedaço de asfalto e paramos numa cidade. Lá soubemos
que o resto de todo o trecho era de terra, diante deste fato conseguimos achar um
caminhão que ia para La Quiaca onde colocamos a moto do Leandro e ele. O Fernando
tevê a ótima idéia (assim achamos no princípio) de deixar nossos bauletos e nossas
bagagens no caminhão para podermos andar mais leves na péssima estrada de terra
(hippio).
Com muito custo, andamos em meio a diversos desvios de noite até uns 95 Km de
nossa última parada. Neste trecho tinha uma minúscula cidade com um pedágio. Após
o pedágio eu encontrei o Fernando num "restaurante", o Juan e o Mathias que vinham
na Varadeiro atrás de mim pararam ao vê-lo.
Colocamos as motos quase que de frente ao restaurante, já que ali havia
bastante gente e fomos comer algo. Quem comeu foi o Fernando e o Mathias eu e o
Juan Carlos só bebemos Coca. No meio da janta eu fui ver as motos e vi que tinham
me roubado uma pequena mala de cosméticos que eu havia comprado para a minha
esposa e que nela estavam alguns presentes que eu comprei no Peru para os meus
amigos e familiares. Fiquei Puto, pois havia gente na rua todo o tempo, a moça do
restaurante, que fez a comida para o Fernando (a cozinha é na rua), o pessoal do
bar do lado e uma moça vendendo doces na esquina.
Ficamos muito preocupados com nossa bagagem que estava no caminhão. Alguem
poderia facilmente pular no caminhão e levar as nossas malas. Resultado, fomos
para o pedágio na entrada da cidade e ficamos esperado nervosos e angustiados o
caminhão chegar. Tentamos descançar e dormir um pouco, mas não conseguimos. Quando
o caminhão apareceu vimos que estava tudo certo. O Leandro mudou-se da cabine para
dentro do caminhão numa lona para ficar vigiando a bagagem.
Desta parte da viagem nem gosto de me lembrar, agora.
O Fernando ia na frente a maior parte do caminho, pois ele têm muita
experiência com terra e com a moto dele ruim do geito que estava, tendo que parar
sempre para acertar a corrêia, ele não podia andar devagar. Na estrada de terra a
técnica para passar areiões, costeletas e obstáculos é sempre acelerar para nao
perder aderência, daí devemos arrumar coragem para nunca frear nem diminuir muito,
e nas curvas andarmos sempre reto e se possível utilizar os pés para dar
equilíbrio. Eu mais tarde vim a saber, o Juan Carlos não tínhamos muito
experiência com este tipo de estrada, assim como eu.
O Fernando passou por um posto de guarda, e eu que vinha a poucos metros atrás
fui fazer o mesmo, quando um guarda imbecíl e criminosamente me puxa uma corrêia
bloqueando a estrada. A última coisa que me lembro, foi a roda dianteira da moto
levando como se fosse um elástico a corrente, depois não me lembro de mais nada.
O que sei, foi o Juan que me contou.
Ele disse que me viu deitado estirado no chão, um guarda do lado (provavelmente
o assassino que puxou a corrêia). Ele pulou da moto em minha direção e o Mathias
correu na frente dele e foi verificar a minha pulsação. O Mathias é salva-vidas
tambem. Ele mobilizou a minha cabeça enquanto o Juan gritava com os policiais para
que fizessem algo e chamassem uma ambulância.
Eles viram que eu começava a voltar a sí e me fizeram um monte de perguntas,
tipo o meu nome, quantos filhos tenho até que tentasse mover os pés e etc...
Felizmente eu estava bem, com uma dôr no ombro, mas sem nenhum arranhão, graças
a minha roupa, a terra fofa e por estar a uma velocidade bem baixa, acho que uns
50 Km/h, naquele trecho.
O Fernando apareceu assim como o chefe do posto, que disse que a ambulância
estava a caminho, o Juan disse querendo matar o guarda com o olhar, para cancelar
a ambulância que eu estava bem. O Leandro que apareceu com o caminhão começou a
pedido do pai a filmar toda a situação e os guardas se acorvadaram e foram pra
dentro da guarita dizendo que um carro da polícia estava a caminho e que eles
tinham que fazer um relatório.
Putos, e silenciosamente, nos aproveitamos do mêdo dos guardas da câmera e
subimos nas nossas motos e seguimos viagem.
Estávamos exaustos de andar na estrada e para piorar ainda descobrimos, às 3:45
am, que tínhamos errado o caminho por uns 50 km nesta péssima estrada. O Fernando
mal conseguiu abrir a mão pois a embragem que ele tinha que controlar direto na
moto devido a corrente, era muito dura. Eu estava no limite de minhas forças assim
como o Juan. Muito , mas muito cansados demos a volta e conseguimos voltar. Vinte
minutos depois chegamos gelados em La Quiaca. Enquanto esquentávamos nossas mãos
nos escapamentos, decidimos achar um hotel e dormir, isto porque já eram 5:00 Am e
estávamos 24 Hrs em nossas motos.
Pegamos o primeiro hotel que estava aberto, e fomos tomar um banho e dormir,
com o corpo todo dolorido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário